ESG: o futuro do mundo corporativo

ESG: o futuro do mundo corporativo

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Ao longo dos últimos anos, a sigla ESG conquistou destaque nos assuntos corporativos ao redor do mundo, especialmente em manchetes de noticiários e de jornais, revelando-se não apenas uma tendência de compra dos consumidores, mas também um dos principais requisitos dos acionistas.

Mas o que é ESG?

ESG (Environmental, Social and Governance) é um conjunto de estratégias e critérios ambientais, sociais e governamentais instituídos por uma organização. Tais práticas permitem que investidores e consumidores tenham conhecimento dos índices desses respectivos fatores mencionados, uma vez que a tendência é se investir em empresas socialmente responsáveis.

Inclusive, essa tendência global de as empresas promoverem ações para atingirem objetivos traçados em harmonia com os princípios do ESG suscita a conscientização sobre os aspectos de responsabilidade social.

Por volta de 1980, o debate sobre a importância da sustentabilidade começou a se fazer presente no mundo, sendo que, em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, da Organização das Nações Unidas (ONU), oficializou a discussão sobre o desenvolvimento sustentável. Nesse primeiro momento, o foco abrangia os limites entre o crescimento da sociedade e os limites da natureza, já que o “desenvolvimento sustentável é necessário para suprir necessidades atuais sem afetar as capacidades de futuras gerações de fazê-lo”.

Após alguns anos, mais especificamente em 2004, o termo ESG foi criado, por meio da publicação do Pacto Global, chamado Who Cares Wins, em parceria com o Banco Mundial. Sua origem se instituiu a partir da necessidade de acoplar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais.

ESG e a agenda da ONU de 2030

A ONU, em 2016, estipulou 17 objetivos de apelo global à ação como uma tentativa de diminuir a pobreza mundial, de proteger o ambiente e o clima, e também de preservar a paz, a liberdade e a prosperidade das pessoas. Essas metas são chamadas de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os quais reúnem os grandes desafios e vulnerabilidades da sociedade como um todo. Vejamos:

Fonte: Imagem retirada do site das Nações Unidas Brasil

Esses objetivos são divididos por assuntos e metas, de acordo com os anos em que cada um deles deve ser atingido. Por exemplo, o objetivo nº 2 (ODS 2), “Fome zero e agricultura sustentável” – o qual determina a erradicação da fome, o alcance e a segurança alimentar, além da melhoria da nutrição e da promoção da agricultura sustentável –, possui alguns objetivos com data estipulada, como:

“2.1 Até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano;

2.2 Até 2030, acabar com todas as formas de desnutrição, incluindo atingir, até 2025, as metas acordadas internacionalmente sobre nanismo e caquexia em crianças menores de cinco anos de idade, e atender às necessidades nutricionais dos adolescentes, mulheres grávidas e lactantes e pessoas idosas (…).”

Outro exemplo interessante é o objetivo nº 9 (ODS 9), “Indústria, inovação e infraestrutura” – o qual objetiva construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável, além de fomentar a inovação –, que estipulou as seguintes metas:

“9.1 Desenvolver infraestrutura de qualidade, confiável, sustentável e resiliente, incluindo infraestrutura regional e transfronteiriça, para apoiar o desenvolvimento econômico e o bem-estar humano, com foco no acesso equitativo e a preços acessíveis para todos;

9.2 Promover a industrialização inclusiva e sustentável e, até 2030, aumentar significativamente a participação da indústria no setor de emprego e no PIB, de acordo com as circunstâncias nacionais, e dobrar sua participação nos países menos desenvolvidos (…).”

Enfim, todos os objetivos traçados podem ser analisados de forma integral na plataforma online  das Nações Unidas Brasil.

Ressalta-se, ainda, que esses objetivos permitiram que a humanidade pudesse dissociar o crescimento econômico da pobreza, da desigualdade e das mudanças climáticas. Dessa maneira, originou-se o pensamento de que é possível maximizar o desenvolvimento econômico em harmonia com as práticas sociais e ambientais.

Até porque há diferença entre o crescimento econômico e o desenvolvimento econômico, uma vez que o primeiro se refere, exclusivamente, às transformações quantitativas, ou seja, não se preocupa com fatores ambientais e sociais, enquanto o desenvolvimento engloba simultaneamente tanto as transformações quantitativas quanto as qualitativas.

Nesse sentido, o ESG é de extrema importância para a preservação do meio ambiente e o uso eficiente e sustentável dos recursos naturais, além da conscientização da economia verde[1]. Já no âmbito social, essa tendência visa à equidade social, à promoção da diversidade, ao engajamento com a sociedade, ao bem-estar dos funcionários e à diminuição da desigualdade, ainda existente atualmente.

Por fim, em relação ao governamental, é necessário ressaltar a importância da transparência, dos comitês e dos controles, ou seja, o foco é priorizar a estrutura corporativa harmônica e saudável entre sócios, gestores e demais partes interessadas (stakeholders[2]).

Qual é a Importância do ESG para as empresas?

As informações relacionadas ao ESG são essenciais para a tomada de decisão dos investidores, uma vez que indicam solidez, minimização de custos, melhor reputação e mais estabilidade em cenários de incertezas e vulnerabilidade. Sendo assim, a principal importância de a governança corporativa seguir os princípios do ESG é permitir estabelecer bases para inovações, fomentando o desenvolvimento sustentável e saudável das atividades de cada corporação.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Pacto Global em 2022, quase 80% das empresas brasileiras se empenham em seguir as diretrizes do ESG, sendo que esse resultado demonstra de forma clara que as empresas, de modo geral, estão cada vez mais se preocupando com impactos ambientais e em estabelecer uma economia sustentável.

Outra informação importante é que, segundo a plataforma Nielsen, 75% dos millennials[3] afirmam mudar seus hábitos de compra para favorecer produtos ecologicamente corretos, por mais que seja necessário pagar um valor mais alto pelos produtos.

Ademais, isso confirma a mudança de pensamento das empresas ao longo dos anos, pois essa tendência de transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa permite atrair mais investimentos, acionistas, consumidores, reputação positiva no mercado, atração de talentos e impactos positivos, principalmente entre os stakeholders do setor.

Ou seja, o mercado já pacificou o entendimento da necessidade da sensibilização em relação ao compromisso com a sociedade, e é exatamente por isso que o ESG é o futuro do mundo corporativo.

Relação com tecnologia e inovação

A tecnologia é uma das principais aliadas do conjunto de estratégias de ESG, já que ela permite diminuir o uso de recursos naturais e de desperdícios de matéria-prima, contemplando maior segurança de dados e dos trabalhadores, além de possibilitar maior atenção aos fatores ambientais, sociais e governamentais.

O uso da inteligência artificial possibilita que as empresas estejam mais próximas de cumprir os ODS, como, por exemplo, a partir de:

  1. Análise de dados em tempo real, por meio de ferramentas digitais, que pode minimizar o desperdício de energia e de matérias-primas, conforme aponta o ODS 12;
  2. Fontes renováveis de energia, como a solar e a eólica, as quais favorecem a diminuição dos gastos de energia elétrica, de recursos naturais e de combustíveis fósseis, respeitando, assim, os ODS 7 e 13;
  3. Computação gráfica, que permite simulações que imitam a realidade com alta veracidade;
  4. Automação industrial e impressão 3D, que contribuem com a inovação robótica para substituir o trabalho humano em cargos repetitivos e perigosos, respeitando, assim, os ODS 8 e 9, entre outros.

A maior varejista brasileira, a Renner, foi premiada na categoria ESG devido ao seu compromisso social, uma vez que, com o apoio da tecnologia, reduziu em 35,4% suas emissões de poluentes, além de ter transformado todo o seu consumo de energia, incluindo prédios administrativos, lojas e centros de distribuição, em fontes renováveis. Ainda, ela anunciou que 81,3% dos seus produtos são feitos com matérias-primas de menor impacto, como algodão e viscose certificados, poliamida biodegradável e fio reciclado.

Outro exemplo de tecnologia associada ao ESG é as práticas adotadas pela AMBEV, a qual teve o seu produto Guaraná Antarctica como a primeira marca de refrigerantes cuja produção de garrafas PET foi feita com plástico 100% reciclado. Além disso, podemos citar, também, o Banco Itaú, o qual objetivou maior independência e inclusão financeira com a criação do iti, banco digital e gratuito.

Outrossim, a tecnologia também permitiu maior segurança para as empresas, no âmbito jurídico, ao se ter maior controle de segurança dos dados pessoais (LGPD). Isso porque ferramentas de inteligência artificial permitem maior segurança no tratamento de dados ao longo de rotinas operacionais, por meio da proteção à privacidade, da diminuição do risco de invasões de hackers, assim como da padronização das normas e da segurança jurídica.

Nesse sentido, é possível afirmar que o uso da tecnologia potencializa os pilares do ESG, pois o uso intensivo da inteligência artificial para a governança auxilia os processos de transparência, eficiência operacional, compartilhamento de informações, transparência corporativa e eficiência administrativa.

ESG e o mercado de investimentos

Os investimentos em ESG são aqueles feitos por empresas que valorizam metas ambientais, sociais e humanas, assim os acionistas podem aportar em empresas sustentáveis que priorizam a governança transparente, bem como a responsabilidade social e diversificada para seus negócios.

A empresa financeira americana MSCI, responsável por lançar índices financeiros, realizou uma pesquisa durante a pandemia de Covid-19 e afirmou que 78% das pessoas entrevistadas aumentaram suas aplicações em investimentos em ESG, demonstrando, portanto, uma das tendências do mercado financeiro.

Ademais, de acordo com a empresa Infosys, por meio de uma pesquisa demonstrada no relatório ESG Radar 2023, os investimentos em ESG nas organizações podem acumular US$ 53 trilhões investidos até o ano de 2025, sendo que esse valor corresponde a um terço dos ativos globais sob gestão. Ainda sobre esse relatório, foi identificado que 90% das pessoas entrevistadas acreditam que os investimentos em ESG geram retornos positivos para os acionistas.

Para medir o retorno dos fundos de investimentos em ESG, existem índices específicos que acompanham empresas, com vista a fazer análise numérica ao longo dos anos, sendo que um desses índices é o MSCI, criado em 1991 nos Estados Unidos, o qual acompanha 400 empresas que visam à prática de conjunto de ações em harmonia com o ESG.

Ressalta-se ainda a existência do ISE B3  – Índice de Sustentabilidade Empresarial –, monitorado pela Bolsa de Valores do Brasil (B3), cujo objetivo é indicar a média do desempenho de cotações dos ativos de empresas selecionadas pelo seu comprometimento com a sustentabilidade empresarial. O respectivo índice foi criado em 2005, sendo o primeiro da América Latina e o quarto índice de sustentabilidade no mundo.

Além disso, a B3 é responsável por um conjunto vasto de índices de sustentabilidade, os quais possuem a finalidade de serem aliados do investidor para a identificação de empresas que estão, de fato, alinhadas com as práticas de ESG. Vejamos:

  • Sustentabilidade Empresarial (ISE B3);
  • Carbono Eficiente (ICO2 B3);
  • Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC);
  • Governança Corporativa Trade (IGCT);
  • Governança Corporativa – Novo Mercado (IGC-NM);
  • Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG).

Apesar de o mercado não poder garantir o retorno positivo de investimentos em ESG, é possível afirmamos a tendência global de maior discussão das empresas sobre o tema.

ESG X Startups

Já no mundo das startups, de acordo com a plataforma Distrito, atualmente, há em torno de 740 startups brasileiras que atuam em soluções relacionadas ao ESG.

Nesse mundo, a maioria das startups voltadas para as práticas de ESG, de acordo com a empresa Ace Cortex, propõe soluções ambientais (como a gestão de energia, por meio de matrizes limpas, controle de poluentes etc.). Em segundo lugar, existem as startups relacionadas à responsabilidade social (como as edtechs – startups ligadas à educação e à aprendizagem –, as healthtechs – startups ligadas à saúde –, e as de cybersecurity – startups ligadas à segurança de dados). Por fim, a minoria das startups desenvolve ferramentas para governança.

Nesse sentido, podemos citar a foodtech Veroo[4], uma startup que une tecnologia e inovação no modelo de negócios e no impacto social, a fim de gerar experiências únicas. A Veroo, clube de assinaturas de café, é uma startup investida pela Arara Seed, sendo que sua principal meta é expandir os negócios com soluções para os produtores de café. Uma das formas que ela se propõe a fazer isso é ampliando a ponta comercial para os produtores que já são parceiros, mas também trazendo um portfólio maior de produtos aos assinantes, aumentando, assim, a atuação da empresa.

Qual é a relação com a contabilidade?

Pouco se fala sobre a importância da ciência contábil como meio de possibilitar a implantação das estratégias de ESG, especificamente no que se refere ao registro do desempenho ambiental das empresas.

Para que as informações das práticas de ESG das empresas sejam transmitidas aos stakeholders, é necessária a apresentação das demonstrações contábeis e do relatório de sustentabilidade, que permitem visão global do desempenho ambiental das empresas.

Esses documentos são os responsáveis pela demonstração do cumprimento de obrigações ambientais decorrentes de legislação abrangente, além da verdadeira prática e aderência da empresa à agenda de ESG (metas prometidas pelas empresas).

Dessa maneira, a contabilidade permite a concretização numérica da prática das metas de ESG estipuladas, pois os cálculos contábeis constituem a base das métricas quantitativas que estão sendo desenvolvidas para mensurar e divulgar os impactos das atividades corporativas.

Ressalta-se que no dia 25 de outubro de 2023, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) aprovou a adoção das Normas Brasileiras de Preparação e Asseguração de Relatórios de Sustentabilidade (NBC TDS e NBC TAS), que têm o objetivo de alinhar as práticas brasileiras às normas internacionais de divulgação de sustentabilidade emitidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB). Essa harmonização é importante para garantir a conectividade entre as práticas de divulgação de sustentabilidade e os padrões globais de contabilidade (IFRS), cuja iniciativa foi parabenizada pelo Instituto de Auditoria Independente do Brasil (IBRACON).

Ou seja, a prática brasileira de realização de relatórios de ESG estará em harmonia com as normas internacionais de divulgação de sustentabilidade emitidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), além de que será obrigatória a participação de profissionais de Contabilidade na elaboração desses relatórios e em trabalhos de asseguração sobre esses documentos.

Portanto, as consequências dessa alteração serão: maior transparência para os relatórios emitidos, demonstração da preocupação do País com a agenda ESG e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a alocação do profissional contábil como protagonista do tema ESG.

Por fim, pode-se afirmar que contabilidade é uma das responsáveis por evitar o greenwashing, por meio do demonstrativo de dados, o qual será abordado a seguir.

ESG X Greenwashing

O termo greenwashing foi criado por volta de 1990, com a finalidade de classificar as ações de empresas promovidas como sustentáveis e harmônicas com o ESG, mas que, na verdade, são “lavagem verde”, ou seja, tais procedimentos não são praticados de fato.

Em resumo, o greenwashing é a prática de marketing cujo objetivo é mascarar dados e informações, omitindo subsídios sobre os reais impactos das atividades de uma empresa no meio ambiente.

Devido a essa prática, foi criado o selo ESG como uma forma de garantir que as corporações pratiquem, de fato, ações voltadas aos princípios sociais e ambientais. Além disso, esses selos são emitidos por fundos de investimento, bolsas de valores e consultorias que validam e buscam esse tipo de postura das empresas para investimentos. Portanto, a harmonia das empresas com os ODS é um dos principais meios para atingir a emissão do certificado do selo ESG.

O Grupo BLB, com vasta experiência na realização de auditorias, possui equipe especializada na auditoria de relatório de sustentabilidade para grandes empresas e de capital aberto. Para conhecer mais sobre esse serviço, clique aqui.

Autoria de Caroline Fernandes
Assistente de Consultoria Tributária
BLB Auditores e Consultores

Revisão de Henrique Galvani
COO Arara Seed
BLB Ventures


[1] Economia verde é o conjunto de ações que visam à promoção de uma economia em harmonia com o bem-estar social e ambiental.

[2] Stakeholders se referem aos indivíduos ou às organizações que possuem interesse pelas ações de determinada empresa.

[3] Millennials são pessoas que pertencem à geração Y, ou seja, todos aqueles nascidos entre 1981 e 1995.

[4] Foodtech é uma expressão usada para se referir a empresas que objetivam incorporar soluções inovadoras e tecnológicas para o setor da alimentação.

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