Desde meados da década de 1990, com a criação do Plano Real e a consequente estabilização da nossa moeda, poucas foram as profissões que tiveram tamanha valorização como a do contador. A valorização do profissional contábil ocorreu pois as empresas passaram a ter outra forma de organizar suas finanças e estratégias, com a época de hiperinflação recém-terminada.
Isso foi consequência da necessidade das empresas em encarar uma nova realidade. Um cenário de estabilidade e que permitia a elaboração de estratégias a partir da análise das demonstrações e dados financeiros.
Maior necessidade por parte das empresas
Como até aquele momento os profissionais de contabilidade eram mais vistos como funcionários públicos pagos pelas empresas, pois apenas serviam para dizer quanto as empresas pagariam de impostos, a visão por parte delas mudou.
Como as estratégias deixaram de ser baseadas apenas em propaganda e qualidade de serviços e produtos oferecidos, a possibilidade de investimentos em longo prazo passaram a ser identificados com antecedência, por exemplo. Isso fez com que as empresas vissem a necessidade do conhecimento do profissional contábil.
Com esse cenário, aumentou o número de contratação de profissionais da área para servirem não somente como instrumentos de arrecadação tributária, mas para ajudarem na definição de estratégias empresariais baseadas em diminuição de custos e planejamento em longo prazo, o que antes não era viabilizado por causa da inflação elevada.
A adequação do Brasil às normas internacionais de contabilidade
Algum tempo depois, no início dos anos 2000, outro fator fez com que o trabalho do profissional contábil ganhasse mais importância dentro das empresas: a adequação às normas internacionais de contabilidade.
Esse processo, que está em andamento até hoje, desencadeou sensíveis alterações no regramento contábil no Brasil, fazendo com que os profissionais da contabilidade passassem por um completo processo de reciclagem profissional. A consequência disso foi a elevação e atualização do nível de conhecimento deles, fazendo com que as empresas pudessem contar com a visão desses profissionais para crescer com mais rapidez.
O Brasil sempre foi muito conhecido pela burocracia nos procedimentos empresariais, e um dos que mais dificultam as ações das empresas é justamente a criação delas. No ano de 2006 houve uma grande mudança com relação ao processo de regularização das empresas. Embora isso não tenha resolvido de vez o problema da burocracia do nosso sistema, fez com que ela fosse bem reduzida com a criação do Simples Nacional.
Dentre outros aspectos, esse dispositivo legal fez com que as empresas vislumbrassem com mais facilidade os procedimentos de formalização e operacionalização, por causa da simplificação dos recolhimentos de tributos para as pequenas e médias empresas.
Esse dispositivo ajudou a corroborar a necessidade das empresas por profissionais que pudessem ajudar diretamente no processo de criação de valor e gerenciamento financeiro em longo prazo. Esse profissional foi identificado como o contador, que foi ganhando mais espaço na gestão das empresas.
Braço direito no processo de gestão
Por mais que um empresário saiba dos detalhes produtivos, operacionais e entenda de que maneira seus clientes querem um serviço ou um produto, eles não têm condições de compreender todos os aspectos legais que norteiam um processo de gestão financeira. Esse é exatamente o campo de trabalho do profissional contábil.
Ele entende dos detalhes jurídicos, sabe onde, como e quando os recursos financeiros devem ser investidos e isso ajuda de maneira efetiva os gestores durante o processo de gestão financeira.
O que antes era uma responsabilidade completa dos proprietários, hoje pode ser dividido com os profissionais da contabilidade. Principalmente em tempos de crise, esse trabalho pode ajudar a identificar as melhores alternativas de investimento e de manutenção da saúde financeira das empresas.
Valorização do profissional contábil e reconhecimento
Com a natural elevação de importância do trabalho deste profissional, o reconhecimento também veio de forma financeira. Hoje em dia, os profissionais de contabilidade ganham mais do que ganhavam duas décadas atrás e tendem a continuar elevando seus ganhos pela importância dos trabalhos que são prestados às empresas.
Essa elevação da valorização do profissional contábil e do reconhecimento foi confirmada no início da atual década, época em que voltou a ser obrigatória a aprovação no exame de suficiência para exercer a atividade contábil.
O exame, que não era obrigatório desde o início dos anos 2000, voltou a ser por meio de um dispositivo de lei, obrigando os profissionais a elevarem o nível de conhecimento se quisessem obter autorização legal para o exercício da profissão.
Nos primeiros exames, os percentuais de aprovação foram baixos, apenas em torno de um terço dos inscritos eram aprovados. Atualmente, esse percentual passa da metade de aprovados em relação ao total de inscritos, segundo o Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
Tendência para o futuro dos contadores
Com a regulamentação do exercício, ficou garantido o bom nível de conhecimento geral dos profissionais de contabilidade. Para as empresas, esse investimento adicional garante bons resultados em longo prazo. Já para os contadores, é garantia de um mercado de trabalho sempre aquecido, pois todas as empresas brasileiras necessitam do trabalho periódico desse profissional.
A tendência é que, em tempos de crise, mais pessoas procurem empreender, criar seus próprios negócios. Assim, para garantir o bom desempenho, além de conhecimento do mercado e do negócio em si, é importantíssimo e obrigatório que todas elas tenham a ajuda profissional de um contador.
Além de ajudar essas empresas, os contadores também possuem algumas reservas de mercados estabelecidas em lei, que são as atividades de auditoria e perícia contábil, exclusivas para profissionais da área. Isso garante uma possibilidade mais ampla de especialização e diversificação na atuação.
O processo de valorização do profissional contábil ainda está em andamento e não tem previsão de parar. Isso porque, com a criação de mais empresas, a necessidade e a valorização do contador são pontos que garantirão uma melhor gestão e mais possibilidade de crescimento dos negócios.