Um dos temas considerados mais relevantes hoje no universo organizacional é a liderança. Não só pela sua importância estratégica no desempenho da empresa como um todo, mas, sobretudo, devido à contribuição do seu papel no desenvolvimento das organizações e da sociedade em que está inserida. Assim, se você quer ter uma carreira bem-sucedida, é preciso compreender o conceito e o papel da liderança, além de sua extensão e inserção nas organizações contemporâneas.
Recentes estudos apontam que grande parte das empresas é, atualmente, mais causadora de insatisfação do que geradora de ambientes motivadores para suas equipes. Com base em pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral, com 400 executivos de 48 empresas de médio e grande porte no Brasil (sendo 60% multinacionais), podemos afirmar que faltam nos dirigentes dois ingredientes fundamentais que explicam essa insatisfação dos profissionais: criatividade/inovação e prática de virtudes.
A pesquisa parte da premissa de que os executivos podem desenvolver, em geral, cinco valores pessoais: o valor econômico, relacionado aos custos e benefícios no negócio; o valor teórico, ligado à lógica e à razão nas decisões; o valor social, baseado no desenvolvimento das pessoas; o valor político, atrelado ao poder, ao reconhecimento e à influência; e, por fim, o valor estético, vinculado à criatividade e à inovação.
Todos esses valores são muito importantes para os dirigentes de uma organização, porém, o problema é que, na maioria delas, eles aparecem em desequilíbrio na ordem de prioridade ou preocupação dos dirigentes. Como indica a pesquisa, em primeiro lugar surge o valor econômico; depois, seguem empatados o teórico e o político e, nos dois últimos lugares, estão o estético e o social, sendo que o social ocupa o último lugar na preferência dos CEOs.
Em outras palavras, esses líderes estão demasiadamente preocupados com resultados em detrimento do pouco envolvimento com as pessoas e o fruto do seu entusiasmo. Eles priorizam o tempo para viajar, participar de várias reuniões, atender o celular e despachar e-mails, mas não para conversar e avaliar outras questões com seus colaboradores.
Dessa forma, o atual cenário aponta para organizações que privilegiam valores equivocados, uma vez que esse é o perfil de executivo que perdura há décadas. Isso ocorre por três motivos: tal perfil é aceito nas organizações sem contestação, os conselhos de administração cobram dos executivos somente resultados econômicos e as próprias empresas que, ao selecionar “talentos” no mercado, optam por esse tipo de profissional.
Por tudo isso, ainda perpetua no universo organizacional um perfil de executivo totalmente inadequado às demandas da sociedade para as empresas do século XXI. Não resta dúvida, portanto, que a liderança continua a ser, há milênios, um artigo de luxo no planeta. Se isso não fosse verdade, não teríamos mais de dois terços da humanidade morrendo, passando fome ou vivendo com menos de dois dólares por dia.
Nesse sentido, a UNESCO tem discutido a necessidade de se buscar um novo paradigma para a liderança, com base no conceito de que ela é um processo de influência, não uma influência pura e simples, mas que promova necessariamente o desenvolvimento humano e social. Uma decorrência dessa definição é que liderança não é cargo, como quer mostrar a literatura a respeito do assunto, confundindo, por exemplo, cúpula das empresas como lideranças.
Como resolver esse problema sobre a liderança?
A resposta é simples, apesar de a solução ser complexa: por meio do investimento na educação da população. Líderes se formam desde os primeiros anos da escola. Líderes que desenvolvam competência e autonomia nas pessoas, assegurando o desenvolvimento de sucessores, o crescimento prudente das empresas e, sobretudo, seu desempenho diferenciado, assegurando empresas longevas de forma sustentável.
É neste momento que entra em ação a importância do uso de modelos no desenvolvimento e na implantação de liderança nas organizações. Sabemos que modelos são reducionistas, porém, quando adequadamente construídos, separam as poucas variáveis vitais das triviais permitindo, assim, o entendimento uniforme dos conceitos usados no modelo. Seu uso também possibilita mensurações, auxiliando na definição de entregas críticas com métricas e metas ao longo de todos os níveis hierárquicos da organização, ou seja, todos passam a ter foco e a trabalhar em prol do atingimento das metas estratégicas, definidas no planejamento estratégico da empresa, com o modelo sendo desdobrado, assegurando diálogo contínuo entre superiores imediatos e subordinados e forçando o relacionamento entre eles para possibilitar o processo de influência. Um modelo extremamente eficaz é o de Liderança Situacional de Hersey e Blanchard que já foi utilizado no treinamento de mais de 10 milhões de executivos em mais de 38 países.
Como a BLB Brasil Escola de Negócios pode ajudar
Compreendendo o cenário apresentado acima, é de extrema importância que o conceito de liderança seja revisto e, de fato, entendido e colocado em prática.
Por Leo Bruno, professor associado e pesquisador da Fundação Dom Cabral