Introdução sobre Ajuste a Valor Presente
Geralmente, quando pensamos no Ajuste a Valor Presente (AVP), as contas que vêm à mente são as de ativo e passivo não circulantes. Já que nelas os prazos de vencimentos são maiores que um ano e chamam a atenção para efetuarmos o AVP. Porém, é frequente nas empresas a compra de mercadorias, produtos ou imobilizados a prazo. Dependendo do ramo da atividade, é comum que as compras de mercadorias sejam financiadas em até 180 dias.
Não existe uma regra para quais contas se aplicam o AVP. Os administradores das empresas devem manter atenção nos prazos das transações. Consequentemente, se aplicável, reconhecer o ajuste a valor presente nas demonstrações financeiras da empresa.
Diante do exposto, e a fim de exemplificarmos a contabilização do AVP exigida pelas normas brasileiras de contabilidade, bem como a evidenciação desse valor em conta específica das demonstrações contábeis requeridas pela Lei nº 12.973/2014, segue no anexo I deste texto um caso prático da contabilização do ajuste a valor presente para uma compra de mercadoria financiada e com juros embutidos na nota fiscal.
Pergunta frequente: por que a empresa deve apresentar o AVP nas informações contábeis?
Quando a empresa apresenta as informações contábeis ao valor presente, a mesma fornece aos usuários das informações contábeis (principalmente aos tomadores de decisões) o quanto a empresa está pagando ou recebendo de juros nas compras e nas vendas financiadas, respectivamente. Tanto os juros das compras quanto os juros das vendas ficam evidenciados na demonstração do resultado (na rubrica de resultado financeiro).
Dificuldades de controle do AVP encontradas no dia a dia das empresas
Enumeramos quatro dificuldades de implantação do AVP nas empresas, destacadas abaixo:
1ª: Os sistemas das empresas não estão preparados para o controle do Ajuste a Valor Presente
No primeiro momento, os sistemas das empresas não estão preparados para o controle do AVP, exceto as empresas grandes que têm boa estrutura de sistemas e de pessoal. Geralmente, as empresas de médio e de pequeno porte precisam contatar o pessoal externo do sistema e explicar a necessidade. A fim de ter as demandas da empresa atendidas.
2ª: Dificuldade de se encontrar o valor dos juros embutidos nas compras
De maneira geral, os juros não vêm explícitos na nota fiscal. Quem possui a informação dos juros embutidos nesse documento são os profissionais da área de compras. Para uma melhor transparência, recomendamos que o sistema da empresa deixe disponível aos usuários a respectiva informação. Já que, sem ela, não há como efetuar a apresentação do AVP nas demonstrações contábeis.
3ª: Dificuldade em apropriar mensalmente o resultado financeiro referente à compra financiada
No primeiro momento, a resposta parece ser simples. Se a compra foi de R$ 10.000 e financiada em três meses, com juros embutidos de R$ 1.000, logo, é só apropriar os juros nos meses 1, 2 e 3. Porém, cabe ressaltar que a apropriação de juros não é uniforme (R$ 333,33 por mês – R$ 1.000 dividido por 3 meses) e, consequentemente, devemos aplicar os conceitos de juros compostos da matemática financeira. Assim, o sistema da empresa deve estar preparado para a apropriação adequada dos juros de forma proporcional, ou seja, pelo regime de competência.
4ª: O pessoal interno das empresas não se interessa pela contabilidade
Para muitos, a contabilidade é um departamento que atende a fiscalização e emite guias de pagamentos. Felizmente, esse conceito está mudando, ainda que lentamente. Nos últimos anos, a contabilidade começou a ser vista como uma ferramenta que auxilia a administração da empresa no processo de redução de custos, no aumento de lucratividade e no planejamento estratégico e operacional.
Anexo I
Caso prático
- a) Compra de mercadoria financiada
Na data de 31 de dezembro de X0, a Empresa Modelo comprou uma mercadoria (mercadoria Y) por R$ 10.000. Sendo que, nessa compra estavam embutidos juros financeiros por R$ 1.000.
Assim, no momento inicial da compra temos as seguintes contabilizações:
Consequentemente, em 31 de dezembro de X0, o Balanço Patrimonial da Empresa Modelo fica representado da seguinte forma:
Para fins de apresentação do livro do inventário, segue abaixo um modelo proposto, na data base de 31 de dezembro de X0. A fim de controlar do AVP sobre as compras das mercadorias:
Como se pode notar no modelo acima, o controle do AVP no inventário deverá ser feito item a item. O que reforça, mais uma vez, a eminente necessidade de que todo processo de execução e controle do AVP deva ser implementado dentro do sistema de informação da empresa. Uma vez que seria desumano e inseguro proceder com esses controles por meio de planilhas externas.
- b) Reconhecimentos do AVP
As contabilizações do AVP serão feitas nos momentos das realizações do passivo e do ativo. Dessa forma, o AVP se realizará pelo regime de competência, ou seja, no caso dos fornecedores a realização se dará mensalmente em função do prazo da compra. Enquanto que o AVP do estoque se dará no momento da baixa do estoque.
No nosso exemplo, a compra foi efetuada em 31/12/X0 e financiada em 60 dias. O estoque foi vendido no décimo dia da data da compra, ou seja, em 10/01/X1. Consequentemente, o resumo das contabilizações na data de X1 será da seguinte forma:
Baixa do AVP de fornecedores:
Baixa do AVP de estoque:
- c) Demonstração do resultado do exercício
Considerando que no ano de X1 a empresa vendeu todo seu estoque pelo preço líquido de venda de $ 15.000¹, segue abaixo a demonstração do resultado no exercício findo de 31/12/X1.
A demonstração do resultado evidencia que a empresa vendeu um estoque por R$ 9.000 e teve uma despesa financeira com a aquisição deste estoque de R$ 1.000. Perfazendo o valor da compra da mercadoria por R$ 10.000.
(¹) Para fins didáticos, no exemplo acima não estamos considerando o “AVP nas vendas a prazo”.