O universo empresarial tem vários termos específicos — e conhecer suas particularidades pode garantir a excelência dos serviços prestados. Pensando nisso, não é raro encontrar pessoas que utilizam os termos variantes de demonstração financeira e contábil para designar os documentos de uma empresa.
Porém, qual a real diferença entre as duas modalidades? Não saber a resposta para essa pergunta pode causar confusão e até erros na prestação de contas de uma organização.
Sendo assim, o artigo de hoje explicará, detalhadamente, se existem diferenças entre os dois termos, quais são elas e como cada uma dessas demonstrações é feita ou pode ser usada para melhorar a performance dos negócios. Confira!
Demonstrações contábeis
As demonstrações contábeis são um conjunto de documentos estabelecidos por lei, dentro daquilo predeterminado pelas Normas Brasileiras de Contabilidade e pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
Elas são elaboradas, principalmente, em empresas que seguem o regime tributário de Lucro Real, devido à necessidade de comprovação dos resultados da empresa ao Fisco. Mas também podem (e devem) ser usadas onde se segue os demais regimes de tributação no acompanhamento da evolução do capital.
Além disso, frequentemente, as demonstrações contábeis são solicitadas para conseguir empréstimos, financiamentos e até mesmo parcelamentos de compras com fornecedores. Isso porque tal recurso comprova a capacidade de pagamento que um negócio tem.
Portanto, mesmo quando não há a necessidade fiscal de entrega do demonstrativo contábil, sua realização é praticamente inevitável para quem deseja fazer uma organização crescer de forma organizada financeiramente.
Quais informações podem estar presentes nas demonstrações contábeis?
Em primeiro lugar, é necessário lembrar que existem vários tipos de demonstrações contábeis. Os mais famosos são o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado de Exercício (DRE), mas também há o Demonstrativo de Fluxo de Caixa, o Demonstrativo de Lucros e Prejuízos Acumulados entre outros.
De forma simples, podemos dizer que as principais informações existentes nas demonstrações contábeis são:
- Quanto dinheiro os sócios investiram na empresa;
- Qual a participação de capital de terceiros (endividamento);
- Como foi o faturamento da empresa no período;
- Quanto desse faturamento foi revertido em lucro; e
- Quanto vale o imobilizado (imóveis utilizados para a atividade-fim da empresa).
O mais importante, porém, é saber que, além das informações básicas que ficam demonstradas nos documentos contábeis, uma análise crítica pode trazer dados muito mais ricos e até mesmo ajudar a fazer cálculos de metas atingíveis ou previsões para o futuro das empresas.
Essa capacidade de ir além nos demonstrativos é o que diferencia uma companhia mediana de uma bem-administrada. Por isso, conhecer todo o cenário contábil/ financeiro de um negócio é fundamental.
Então, que tal desbravar mais a fundo os principais demonstrativos contábeis? Confira, nos próximos tópicos, quais as informações mais relevantes que cada um deles podem oferecer!
Balanço Patrimonial
Esse é, de longe, o demonstrativo contábil mais famoso e importante. Normalmente, há uma versão resumida de todos os ativos — como são chamados os bens e os direitos de uma empresa — e passivos (as obrigações que ela tem com terceiros).
Os ativos ficam posicionados no canto esquerdo do demonstrativo e são divididos entre circulantes ou não circulantes. A diferença entre as duas categorias está no prazo de liquidez, já que é classificado como circulante o ativo que é ou que pode se tornar dinheiro dentro do próximo exercício (ou seja: do próximo ano).
Já os ativos não circulantes são bens e direitos da companhia que podem levar mais de um ano para serem convertidos em dinheiro, caso necessário. Os imobilizados, já citados neste artigo, são bons exemplos de ativos não circulantes.
Do lado direito do Balanço Patrimonial, ficam os passivos, isto é, as obrigações que a empresa tem com terceiros. As contas que costumam enquadrar-se nessa categoria são as de fornecedores e as de empréstimos bancários. Assim como o ativo, o passivo também é subdividido em circulante e não circulante, com os mesmos critérios.
Além disso, o lado direito do Balanço Patrimonial conta com uma subdivisão chamada Patrimônio Líquido. Nesse local são descritos o capital social do negócio (ou seja: o investimento inicial dos sócios) e as reservas de lucro.
Um ponto importantíssimo a ser lembrado por contadores é que o lado esquerdo e o direito do balanço devem ter valores iguais. Caso haja diferença entre os ativos e a soma dos passivos com o patrimônio líquido, ele está incorreto. Isso acontece porque qualquer bem e direito de uma empresa precisa ser financiado, seja com capital próprio ou de terceiros.
Demonstração de Resultado de Exercício (DRE)
Para entender como funciona a Demonstração de Resultado de Exercício, é preciso ter em mente uma diferença simples entre ele e o Balanço Patrimonial.
O balanço é responsável por avaliar a evolução dos bens e das obrigações da empresa com o passar dos anos. Já a Demonstração de Resultado de Exercício mostra as receitas e despesas do negócio dentro do período de um ano contábil.
Em uma analogia simples, se a companhia fosse uma pessoa, o balanço mostraria seus bens (como carro, casa e apartamento na praia), enquanto a DRE revelaria quanto ela gastou e ganhou naquele ano. Fácil, não?
Sua estrutura é bastante simples e, muitas vezes, lembra um extrato bancário. A parte de cima da DRE mostra a receita e os abatimentos. As deduções nessa etapa são normalmente demonstradas pelos impostos indiretos sobre as vendas e/ou prestação de serviços, sendo representados pelos seguintes impostos e contribuições: ISS (Imposto sobre serviços), PIS (Programa de Integração Social), Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) e o ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços). Após essas deduções e alguns abatimentos, tais como devoluções, obtém-se a receita operacional líquida, que com a dedução dos custos das mercadorias/produtos vendidos ou serviços prestados chega-se ao lucro bruto.
Posteriormente à obtenção do lucro bruto são deduzidas as despesas operacionais líquidas e outras receitas/despesas líquidas, resultado financeiro líquido e impostos diretos (IRPJ – Imposto de Renda de Pessoa Jurídica) e CSL (Contribuição Social sobre o Lucro), chegando no lucro ou prejuízo do período.
Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC)
O caixa da empresa é o ponto de entrada e saída de todo o dinheiro que circula durante o ano. Portanto, não é de se estranhar que a Demonstração de Fluxo de Caixa seja uma versão resumida de tal movimentação.
Sua importância é enorme, já que se trata de uma ótima forma de descobrir onde a organização está utilizando seu dinheiro, especialmente nos casos de endividamento com terceiros. Para facilitar, ela costuma aglomerar as entradas e saídas em contas.
Um segredo conhecido apenas por contadores experientes é que a DFC não precisa ser feita com base nas entradas e saídas reais do caixa, já que é possível derivá-la do balanço e da DRE.
Demonstração de Valor Adicionado (DVA)
A DVA é bastante comum em companhias de capital aberto e informa como a riqueza gerada é distribuída. Ela é utilizada para traçar um panorama de como o faturamento impactou o desempenho social e, até mesmo, a economia em geral.
Demonstração de Lucros ou Prejuízos Adicionados (DLPA)
A DLPA é um demonstrativo com foco nos resultado do exercício e mostra como as contas de Lucros e Patrimônio Líquido se movimentaram neste período. Ela informa, por exemplo, quanto dos dividendos foi distribuído aos sócios e quanto do lucro se transformou em reserva.
Notas explicativas
As notas explicativas não são, necessariamente, demonstrativos contábeis, mas sim uma ferramenta bastante importante para esclarecer pontos que podem não ter sido evidenciados nos demais demonstrativos. Alguns exemplos são:
- Critérios de avaliação patrimonial;
- Explicação de ajustes de exercícios anteriores; e
- Exposição de garantias de obrigações a longo prazo.
Demonstrativos financeiros
Finalmente, podemos responder à pergunta do título e revelar que, na verdade, não há diferença entre as demonstrações financeiras e contábeis. Os dois termos são utilizados para designar o mesmo conjunto de documentos, já citados anteriormente, como o Balanço Patrimonial e a DRE.
O termo “demonstrativos financeiros” costuma ser mais empegado por empresas com capital aberto, mas nada impede que profissionais de outras áreas usem tal expressão quando forem se referir aos demonstrativos contábeis.
Demonstrativos financeiros como controle empresarial
Existe, porém, uma categoria de controles empresariais que também pode ser chamada de demonstrativos financeiros. Eles não servem como documentos oficiais ou demonstrações contábeis, mas são tão essenciais quanto os papéis originais para o controle financeiro e econômico de uma organização.
Para entender do que se trata, devemos nos lembrar de que todos os demonstrativos contábeis são efetuados com base nos Princípios Fundamentais da Contabilidade. E um deles é o da competência — que pode fazer a diferença no controle das finanças de uma empresa.
O princípio da contabilidade (princípio da competência) prevê que as transações sejam lançadas nos demonstrativos assim que ocorrem, independentemente do pagamento ou de seu recebimento. Ou seja: se a empresa faz contas parceladas para seus clientes, a receita dessas vendas entra completamente na DRE no momento da venda ou, caso esta efetue compras parceladas, também deve registrar as despesas no resultado do período independentemente de seu pagamento. Caso a compra seja de ativos com finalidade de produção de produtos ou revenda, essas devem ser contabilizadas no ativo no grupo contábil de estoques e posteriormente no momento da venda das mercadoria ou produtos estes serão classificados na demonstração de resultado como (Custo dos produtos ou mercadorias vendidas).
Por isso, é normal que companhias mantenham uma espécie de Demonstrativo de Fluxo de Caixa adaptado, com receitas e despesas reais da rotina, como forma de controlar a quantia disponível em caixa. Essa adaptação pode ser considerada um demonstrativo financeiro, pois mostra a real situação do negócio, levando-se em conta o que há, de verdade, em caixa.
Assim, não se perde de vista a realidade da empresa no momento, independentemente dos recebimentos futuros. Porém, reforçamos que essa demonstração financeira não tem valor legal e é utilizada somente para controle interno da situação econômica de uma organização.
Apesar de não haver diferença entre uma demonstração financeira e contábil, conhecer esses documentos e suas peculiaridades a fundo faz toda a diferença para um profissional que deseja se destacar no mercado de trabalho e trazer insights valiosos, que realmente contribuam para o crescimento de uma organização.
Artigo muito bem elaborado e muito esclarecedor. Parabéns!
Agradecemos seu comentário, Wilson! Fique à vontade para conferir outros artigos e assinar nossa newsletter para receber boletins em seu e-mail todas as semanas.
Gostei da matéria, eu preciso aprender mais sobre contabilidade, das questões básicas até as mais profundas cada paço e interpretação dos mesmos.
Gostei bastante, estava com essa dúvida’