O mundo atingiu uma velocidade de informações nunca antes vista, fruto de um número crescente de inovações tecnológicas que permitiram a qualquer pessoa compartilhar seus conhecimentos e ideias em tempo real com bilhões de pessoas na internet.
Nesse contexto de inovação, por volta dos anos 90 surgiu a denominada nova economia, caracterizada pela tendência à transição de produtos para serviços, ao uso intensivo de tecnologia, à colaboração, ao valor do usuário (ou consumidor) e à velocidade de escala.
As startups nascem nesse universo, em que empresas jovens e enxutas são capazes de enfrentar as grandes e tradicionais concorrentes por sua velocidade de adaptação e desapego aos antigos dogmas presentes em algumas empresas da velha economia.
Porém, para crescerem de forma veloz e atingirem escala, as startups frequentemente necessitam de recursos de terceiros (mão de obra, capital, infraestrutura e rede de relacionamentos). Então, surgem algumas alternativas de fomento, como o modelo de venture builder que abordaremos neste artigo. Continue lendo para saber mais sobre ele!
O que é uma venture builder?
Venture builder é uma organização focada em desenvolver novas empresas de forma sistemática, atuando ativamente para o crescimento e o sucesso por meio do aporte de recursos próprios. As companhias também são conhecidas pelos termos “fábrica de startups” e “estúdios de startups”.
Há certa discussão sobre a data precisa na qual o termo foi criado. Embora algumas pessoas argumentem que o conceito é mais antigo, a idealab, fundada no ano de 1996 no místico Vale do Silício, é considerada por muitos como a primeira verdadeira venture builder do mercado, tendo criado e investido em uma série de startups.
Cerca de uma década depois, por volta de 2007, a “segunda onda” de venture builders começou, dando origem a famosas companhias como a Rocket Internet (alemã, sediada em Berlim), que possui no seu portfólio de investimentos empresas conhecidas pelos brasileiros como a Dafiti e a Easy Taxi.
Em 2016, seu portfólio foi avaliado em 6 bilhões de euros (cerca de R$24 bilhões na cotação da época).
O principal objetivo das fábricas de startups é ganhar dinheiro por meio da valorização do capital próprio investido nesses negócios. Como acontece? Conforme as rodadas de investimento vão acontecendo, a participação em forma de cotas que as ventures possuem no negócio vai se valorizando. Então, chega um momento em que ocorre o exit, que é a saída do negócio por meio da venda de toda a participação.
Como funciona uma venture builder?
Falando mais sobre o modelo de negócios dessas companhias, existem 5 atividades-chave comumente desempenhadas pelas venture builders. São elas:
- Identificar ideias de negócios com potencial;
- Construir times;
- Buscar capital;
- Gerenciar os riscos; e
- Prover o compartilhamento da mão de obra.
Identificação de ideias de negócios
O processo de identificação de ideias de negócios em potencial é realizado de maneiras diferentes de acordo com a metodologia de cada organização. Algumas, por exemplo, optam por pesquisar negócios em potencial em outros países e copiá-los nos seus países de origem, de forma a diminuírem riscos, antevendo obstáculos e repetindo o que já deu certo.
Você pode não saber, mas o airbnb (EUA) foi ameaçado pela Wimdu (Alemanha), startup que buscou replicar o seu modelo de negócios na Europa, por exemplo.
Outras empresas optam por criar os seus próprios negócios. Primeiro, elas fazem pesquisas ou desenvolvem uma tese de negócios, depois desenvolvem uma série de ideias e, então, aplicam os seus recursos para o desenvolvimento de um MVP (Produto Mínimo Viável) para validação, que posteriormente pode vir a se tornar um negócio escalável.
Construir times
As venture builders também são responsáveis pela criação ou desenvolvimento de times nas startups.
Uma vez que a ideia de negócios está clara e validada, as companhias podem optar por recrutar profissionais para tocá-las na figura de fundadores ou mesmo desenvolver os times que já compõem uma startup do portfólio.
Buscar capital
Quando as startups integram o portfólio dessas organizações, o acesso ao capital é facilitado. As companhias podem optar por financiar os negócios com capital próprio ou buscar pelo capital de terceiros.
A rede de relacionamento com investidores dos mais variados tamanhos e segmentos de expertise é um trunfo para startups garantirem rodadas de captação. Além do dinheiro, o denominado smart money (dinheiro inteligente) é um grande diferencial.
Trata-se de um capital com valor agregado, potencializado pelo conhecimento que o investidor pode agregar aos negócios e pelo seu papel de agente facilitador ao abrir portas importantes aos fundadores.
Gerenciamento de riscos
Por meio da aplicação dos conceitos básicos de governança corporativa e compliance, as venture builders conseguem prover um melhor gerenciamento de riscos e assim dar mais confiança aos negócios, sem frear a velocidade exigida para que as startups cresçam de forma veloz.
Recursos compartilhados
O compartilhamento de mão de obra e recursos envolve áreas como jurídica, marketing, design e contabilidade, para que os fundadores possam se concentrar inteiramente na tração dos negócios.
Quais são as diferenças em relação a outros modelos?
Existem diferenças relevantes entre as venture builders e outros tipos de empresas que atuam no ecossistema de inovação como aceleradoras/incubadoras e fundos de venture capital, por exemplo.
Abaixo, listamos as principais:
Aceleradoras/incubadoras: em termos de rodadas de investimento, as aceleradoras e incubadoras acabam optando em sua maioria pelos investimentos de pre-seed, enquanto as venture builders estão presentes em variadas rodadas e por um período maior.
Os períodos de investimentos desses players são de curto prazo, frequentemente estruturados na forma de programas, com módulos de mentorias e tarefas a serem desenvolvidas. Em alguns casos, também oferecem recursos compartilhados. Tudo isso em um período entre 6 meses e 1 ano, enquanto as venture builders desenvolvem um relacionamento de 5 a 10 anos com as empresas.
Os times da fábrica de startups ficam imersos nessas empresas, vivendo as suas rotinas de forma intensa durante todo o período de investimento até o exit.
Fundos de Venture Capital (VC): não atuam de forma operacional nas empresas investidas. Ao invés disso, eles definem as suas teses de investimento (por exemplo, startups de determinados segmentos como construtechs, martechs, agtechs, entre outros) e, acima de tudo, focam nos times envolvidos nos projetos. Afinal, eles é que serão os responsáveis pelo desenvolvimento operacional.
Por outro lado, os venture capitalists se envolvem bastante no acompanhamento gerenciamento das startups para se certificarem que os recursos estão sendo aplicados no sentido do crescimento dos negócios.
Outra diferença fundamental é que os fundos de venture capital se concentram em fazer apostas em uma série de negócios com a estratégia de acertar algumas poucas startups com crescimento exponencial, responsáveis por representarem no futuro a ampla maioria do seu portfólio (80% dos retornos são originados por 20% das empresas).
Enquanto isso, as venture builders investem em startups ligeiramente menos arriscadas, com uma proporção maior do seu portfólio vindo a se tornar empresas estáveis e saudáveis (6 em cada 10 startups investidas).
Qual é o modelo mais recomendável?
A verdade é que o modelo ideal para uma startup varia de acordo com o estágio de desenvolvimento dos seus negócios (ideação, validação, tração, scale-up) e do que os seus fundadores tem em mãos e estão dispostos a oferecer em troca desses investimentos.
Normalmente todos os modelos citados acima possuem processos seletivos sérios, com pré-requisitos de participação bem estabelecidos, além de uma tese clara de investimento, variável de organização para organização de acordo com critérios próprios.
Em estágios mais avançados, como o scale-up, os negócios já estão bem desenvolvidos, em fase de crescimento exponencial. Assim, os cheques das rodadas são maiores e a negociação provavelmente será realizada com grandes fundos.
O importante é que todos são peças-chave no ecossistema de empreendedorismo, responsáveis pelo apoio no desenvolvimento de negócios em cada uma das suas fases de vida, levando os fundadores do ponto A ao ponto B com mais recursos.
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Diego Almeida
CMO da BLB Ventures
Grupo BLB Brasil
Excelente matéria. Não conhecia o programa, se assim pudermos defini-lo, Venture Builder. Vejo um sentido muito positivo, como um compartilhamento recursos assistido, onde todas as pontas aprendem. Parabéns ao editor pela publicação.
Bom resumo ??????