A auditoria no setor de distribuição de insumos agrícolas nem sempre foi um assunto amplamente difundido, principalmente se pensarmos que, há dez anos, esse tema era pouco conhecido entre os revendedores e os empresários do segmento, assim como não era uma exigência muito cobrada pelo mercado (como instituições financeiras, fornecedores etc.).
Contudo, com a forte expansão do agronegócio brasileiro e o aumento significativo de investimentos nesse setor, por investidores tanto do mercado interno quanto externo, a auditoria na área em questão passou a ser não só disseminada, mas também primordial.
Levando em consideração a nossa experiência ao prestar serviços de auditoria para clientes desse segmento, percebemos que, muitas das vezes, os sócios-proprietários dessas empresas vieram de grandes multinacionais fabricantes de insumos agrícolas, onde foram importantes representantes comerciais e, por fim, decidiram empreender construindo o próprio negócio.
Embora, na maioria das vezes, esses empreendedores sejam bem sucedidos por conseguirem obter faturamentos expressivos – pois todos os conhecimentos e experiências adquiridos ao longo de suas carreiras contribuem para alcançar as metas de vendas –, existem também outras atividades da empresa que precisam receber atenção e acompanhamento especial para que o seu crescimento seja contínuo e saudável, afinal não saber crescer é uma das principais causas de as empresas muitas vezes não darem certo.
Por meio da auditoria, as empresas desse segmento podem acompanhar e também compreender de forma ampla como a gestão dos controles internos, administrativos, financeiros, contábeis e fiscais estão sendo conduzidas e quais impactos estão causando.
Apesar de, em algumas situações, ficarmos surpresos com os níveis de controles de algumas empresas, na maioria das vezes nos deparamos com controles internos frágeis, que viabilizam a ocorrência de diversos erros e até mesmo de fraudes, além de ocasionarem problemas contábeis e fiscais relevantes. Costumo dizer que esse é um segmento extremamente arriscado para se empreender, afinal ser empresário no Brasil é correr risco o tempo todo!
O setor de distribuição de insumos agrícolas não dá chances ao amadorismo por se tratar de um ramo com margens estreitas e diversos fatores de riscos implícitos, tais como: risco de crédito, cambial, de variação dos preços das commodities agrícolas e ainda um enorme risco relacionado a eventuais sinistros, sejam eles por algum tipo de avaria ou ainda por roubos das mercadorias. Definitivamente esse segmento não é para amadores!
É muito comum que alguns riscos relacionados a esse segmento sejam detectados durante uma auditoria, dentre eles, elencamos os principais a seguir.
Principais riscos na distribuição de insumos agrícolas
Risco de crédito
É o risco de prejuízo financeiro da empresa, caso um cliente falhe em cumprir com suas obrigações contratuais, que surgem principalmente dos recebíveis. Esse risco é um dos principais do segmento, pois é normal, nesse setor, financiar a aquisição dos insumos.
Em muitas empresas, é comum os agrodistribuidores terem que realizar os pagamentos de seus fornecedores muito antes de receberem por suas vendas realizadas, assumindo, dessa maneira, todo o risco do negócio.
Sendo assim, o risco de crédito está estritamente relacionado com as condições climáticas, pois caso ocorra qualquer intempérie, isso poderá afetar fortemente e potencializar o não recebimento das vendas realizadas.
No tocante à mitigação do risco de crédito, a auditoria possui um papel fundamental, visto que, por meio das análises dos controles internos, o auditor tem por procedimento verificar as bases para concessões de crédito.
Nessa etapa dos trabalhos, são verificadas a qualidade dos cadastros dos clientes e a aderência às políticas de vendas da empresa, observando os limites de crédito para a realização de vendas, os procedimentos de cobrança e, principalmente, a checagem das garantias pactuadas nas operações de vendas.
Risco na variação dos preços das commodities agrícolas
Muitos desses revendedores transacionam com commodities agrícolas, as quais frequentemente são utilizadas como moeda de troca para o recebimento das vendas dos insumos, operando por meio das chamadas operações de Barter, que consistem na transação de troca entre o produtor rural pela aquisição de insumos agrícolas, a agrodistribuidora pela venda de insumos agrícolas e uma trading. Essa operação se dá na troca de insumos pela produção agrícola, na qual o distribuidor vende os insumos agrícolas ao produtor rural a prazo, tendo como recebimento commodities agrícolas como pagamento pela venda desses insumos.
Caso essas trocas não estejam travadas no momento das vendas poderão proporcionar oportunidades para a revenda ou ainda prejuízos relevantes.
No último ano presenciamos uma grande ocorrência de washout, termo em inglês que, no contexto das operações de compra e venda de commodities, é utilizado como o cancelamento da transação anteriormente pactuada, ou seja, a recompra de posição, seja pela impossibilidade de entrega do produto, seja simplesmente pela falta de interesse em cumprir o contrato.
Notamos muito esse procedimento no exercício de 2021, quando os preços de commodities dispararam e, muitas vezes, foi mais interessante pagar as penalidades relacionadas ao washout em vez de entregar a commodity. Portanto o risco da variação desses preços é algo extremamente relevante para o setor.
Em relação à variação de preços das commodities agrícolas, sabemos que é algo complexo e imprevisível, pois está diretamente relacionada com inúmeros acontecimentos globais que podem impactar diretamente os preços desses produtos.
Assim, muitas empresas do segmento que operam commodities por meio de trocas devem trabalhar com hedge de suas posições, pois, nesse mercado, caso não se opere dessa forma, os resultados a serem realizados poderão ser desastrosos. Portanto, a conferência desse processo é algo de extrema relevância e que a auditoria tem por objetivo e também procedimento realizar.
Nessa verificação, o auditor pode contribuir para a redução desse risco, garantindo o correto tratamento contábil nos registros das transações, favorecendo a qualidade do Gerenciamento de risco frente à volatilidade que as variações nos preços desses ativos podem trazer para os resultados do negócio. Sobretudo, esses registros trazem previsibilidade para os resultados das empresas, fazendo com que os administradores dos negócios possam tomar melhores decisões.
Risco cambial
Está presente em todos os agrodistribuidores, uma vez que esses compram de companhias multinacionais, e os produtos, em sua maioria, são importados, o que indiretamente expõe o setor ao risco cambial.
Percebemos no exercício de 2021 que as empresas que estavam bem posicionadas nas compras acabaram, muitas vezes, aumentando suas margens, pois os produtos adquiridos antecipadamente proporcionaram ganho ao não sofrerem a variação de aumento de preços que aconteceu em virtude da pandemia da Covid-19 com a quebra da cadeia produtiva mundial.
As críticas e análises realizadas pela auditoria sobre esse tipo de operação ganham destaque, pois seus efeitos (variações), normalmente são muito sensíveis com impacto direto no resultado e na posição patrimonial das empresas.
Dessa forma, o entendimento em relação ao impacto do risco cambial nos negócios pode ser melhor esclarecido, uma vez que o auditor é um especialista no assunto.
Risco de sinistros
O segmento sempre sofreu com esse tipo de dano, pois como as mercadorias são de alto valor agregado, acabam sendo muito visadas por criminosos e, portanto, o investimento em segurança tem se intensificado no sentido de se precaver contra esse problema. Em um segmento no qual as margens de lucro não são grandes, um furto pode arruinar o resultado de um ano inteiro de trabalho.
Durante a análise dos controles internos, o auditor tem por prática não somente examinar os controles relacionados aos ciclos contábeis, financeiros e fiscais, mas também conferir o nível de segurança dos procedimentos internos. Dentre esses, uma prática relevante analisada pela auditoria refere-se aos níveis de segurança quanto ao acesso sistêmico e físico dos estoques, sendo que esses procedimentos têm por objetivo minimizar a ocorrência de eventuais sinistros.
Benefícios da auditoria na distribuição de insumos agrícolas
Com esses vários riscos intrínsecos ao negócio, a auditoria das demonstrações financeiras passou a ser uma aliada dos empresários do setor, pois tem como principal foco a análise das políticas, dos procedimentos de controles internos e também da aderência das práticas contábeis vigentes.
A dinâmica do setor mudou significativamente, e atualmente ser auditado é pré-requisito para conseguir boas taxas junto às instituições financeiras e também a manutenção das linhas de crédito. Ainda, nesse sentido de benefícios ao empresário, não poderia deixar de falar sobre a melhoria nos controles internos da empresa, pois a auditoria, pela vasta experiência advindo da diversidade de outros segmentos, tem o poder de contribuir com recomendações para a otimização desses controles por meio das melhores práticas, impactando os processos sólidos de gestão.
Por fim, mas não menos importante, as empresas auditadas têm sido preferidas pelos players que estão disputando esse mercado, no caso, grandes fundos de investimentos e grupos internacionais, na missão de consolidar o setor de distribuição de insumos no Brasil.
Portanto, tem-se que tal movimento pode ser uma importante oportunidade para o empresário que estiver preparado ou uma grande ameaça, para aqueles que sequer são capazes de chamar a atenção desses players.
A BLB Auditores e Consultores possui vasta experiência em auditoria no segmento de agrodistribuição, além de atuar como advisor nas operações de M&A (Mergers and Acquisitions), que significa uma operação ou transação financeira para compra, venda ou fusão de empresas.
Robson Santesso Pires
Sócio-diretor de Auditoria
Grupo BLB