Nos tempos atuais, constantemente percebemos que as empresas realizam a proteção de suas transações operacionais com instrumentos financeiros derivativos, ou, em alguns casos, utilizam desses instrumentos para fins especulativos, seja em bolsa de valores, seja pelo mercado de balcão, conhecido também em inglês como OTC (Over-The-Counter), por meio do qual são realizadas todas compras e vendas de instrumentos financeiros fora da bolsa de valores.
Essas operações fora da bolsa são feitas com a intermediação de instituições financeiras, como casas de câmbio, corretoras e bancos, mercado menos regulado do que as bolsas, permitindo que as empresas tenham maior flexibilidade em suas transações. Dessa maneira, podemos concluir que as empresas poderão ter uma relação de Hedge ou simplesmente ter um derivativo isolado sem que não seja possível estabelecer uma relação de proteção, portanto podendo ser caracterizada como uma especulação.
O que são derivativos?
Derivativo é um instrumento financeiro cujo valor final depende (deriva), total ou parcialmente, do valor de outro ativo que pode ser uma ação, moedas, commodities, juros, entre outros, como exemplo das ações negociadas em bolsa de valores, onde o preço de uma opção (derivativo) varia de acordo com a cotação da ação relacionada.
Certo, agora que sabemos que as empresas que contratam derivativos e podem utilizá-los tanto para fins de proteção quanto para especulação, posso concluir que as empresas que contratam esse tipo de instrumento financeiro estão mais expostas a riscos?
Resposta: Errado! Isso mesmo: errado. O simples fato de uma empresa existir já faz com que esteja exposta a vários tipos de riscos em suas transações, sejam eles riscos cambiais, quando a empresa em sua operação realiza exportações ou importações de mercadorias, riscos na variação dos preços de commodities (soja, café, trigo etc.), riscos de taxas de juros, entre outros relacionados às atividades operacionais das empresas. Podemos dizer que “o próprio fato de uma empresa existir já é um imenso risco”.
Dessa forma, quando o derivativo é utilizado de forma consciente e com a finalidade de proteção contra as oscilações futuras provenientes das variações de preços de commodities, câmbio etc., é de extrema utilidade e muito benéfico dentro da estrutura de gestão de riscos, pois proporciona previsibilidade às demonstrações financeiras das empresas.
Sabemos que os derivativos são benéficos para as empresas quando utilizados de forma adequada e alinhada à gestão de riscos das empresas, dessa maneira é importante conhecermos alguns instrumentos financeiros mais utilizados atualmente:
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Contratos a termo
São contratos em que as partes assumem compromisso de compra e venda de quantidade e qualidade determinadas de um ativo (mercadoria). Muitas vezes esses contratos são celebrados a fim de garantir a margem de lucro esperada pelos agentes, pois como os contratos serão liquidados no futuro é de extrema importância que a empresa consiga atingir uma margem aceitável de lucro, não ficando exposta às variações do mercado. Como exemplo podemos citar a negociação de commodities que possuem cotação diária. Existem também outros tipos de contratos a termo, como o de moedas que são utilizadas com a intenção de proteção em relação ao risco cambial.
Exemplo de contratos a termo: Termo de commodities e Termo de moedas, conhecidas também como NDFs.
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Contratos futuros
Os contratos negociados no mercado futuro são uma evolução dos contratos a termo. A principal diferença é a liquidação dos contratos. Enquanto no mercado a termo os desembolsos ocorrem somente no vencimento do contrato, no mercado futuro os compromissos são ajustados diariamente. Ou seja, todos os dias são verificadas as alterações de preços dos contratos para apuração das perdas de um lado e dos ganhos do outro, realizando-se a liquidação das diferenças do dia. Além disso, os contratos futuros são negociados somente em bolsas.
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Contratos de opções
As opções servem também como um instrumento de hedge pelo qual as empresas podem adquirir um direito de comprar ou vender um ativo por um determinado preço em uma data futura.
A empresa não é obrigada a concretizar a compra ou venda na data prevista, caso o cenário não se revele vantajoso como o esperado. Nessas operações quem compra um direito de comprar determinado ativo em data futura por um preço pré-estabelecido paga um prêmio por isso. Já na outra ponta, a vendedora receberá o prêmio pelo risco de vender determinado ativo a um preço pré-estabelecido. Nessas operações, quem compra o direito de comprar não é obrigado a exercer esse direito, ou seja, só exercerá esse direito caso o cenário se revele vantajoso como o esperado.
Simulação de instrumento financeiro derivativo
Entender os derivativos nem sempre é uma tarefa fácil, portanto, pretendemos detalhar mais o assunto nos próximos artigos, entretanto, para que ao final da leitura deste artigo se tenha uma ideia de como um derivativo pode ajudar na garantia das margens de lucros desejadas, simularemos uma transação contendo um derivativo na modalidade de contrato a termo de commodities. Acompanhe:
Suponhamos que um produtor rural de café pretende garantir sua margem de lucro na venda da sua mercadoria no valor de R$ 100 por saca de café. Na data da venda os preços não estão muitos favoráveis para a realização da comercialização, no entanto há a expectativa que os preços subam nos próximos meses. Dessa forma, devido às incertezas do mercado em relação às oscilações dos preços da commodities, ele resolve celebrar um contrato a termo de café com uma grande indústria.
Na data da celebração do contrato (01/02/2020) a saca de café estava cotada a R$ 400, o que pelas contas do produtor lhe daria uma margem aproximada de R$ 50 por saca.
A indústria, por sua vez, devido à necessidade de café para sua produção, oferece ao produtor comprar sua mercadoria no futuro pagando-lhe R$ 500 a saca, contrato esse com data de vencimento em (31/05/2020), pois na sua visão poderia haver escassez do produto nos próximos meses, o que poderia elevar o preço da saca de café para até R$ 600 cada.
Visando à realização da proteção de sua margem, o produtor aceita receber no futuro R$ 500 por saca de café vendida, o que lhe garantiria os R$ 100 de margem desejada e a indústria conseguiria garantir sua produção e também a margem desejada.
Em 31/05/2020 (vencimento do contrato) o mercado confirmou sua expectativa de alta para a commodity e a cotação da saca de café nesta data estava em R$ 620. Nesse momento, a indústria pagará ao produtor pela recepção do café o valor de R$ 500 por saca, o que potencializou sua margem. Ou seja, a indústria ganhou em sua margem R$ 120 por saca de café adquirida do produtor por ter celebrado o contrato.
Você deve estar se perguntando agora, mas nessa situação o pobre produtor saiu perdendo, não?
Podemos analisar esse assunto por pontos de vistas em relação a alguns cenários:
- O primeiro cenário seria a situação em que o que o produtor não realizasse o contrato de hedge, ou seja, ele permaneceria com seus produtos até conseguir vendê-los por um preço maior, aumentando de forma expressiva sua margem.
- O segundo cenário possível seria a do mercado não confirmar a expectativa de aumento do preço da commodity, ou seja, a saca inicialmente cotada a R$ 400 cairia a, por exemplo, R$ 250 em 31/05/2020, o que poderia trazer grandes prejuízos ao produtor caso não celebrasse o contrato de hedge.
- O terceiro cenário é o que foi materializado com a operação de hedge realizada pelo produtor, que lhe garantiu sua margem desejada na data de celebração do contrato e garantiu o lucro esperado inicialmente por ele.
Conclusão
Agora conseguimos compreender que, quando utilizados de forma consciente, os instrumentos financeiros derivativos para fins de proteção são de extrema efetividade para garantir a margem de lucro esperada pelos agentes, portanto, sendo possível projetar resultados previsíveis nas demonstrações financeiras.
Nos próximos artigos pretendemos detalhar um pouco mais como funcionam outros instrumentos financeiros (NDFs, Opções, Swaps e mais).
A equipe do Grupo BLB Brasil é especialista nas análises das operações com instrumentos financeiros derivativos, com experiências práticas em diversos clientes. Conte conosco!
Robson Santesso Pires
Gerente de Auditoria