A despeito dos altos e baixos da economia, a participação de empresas no mercado financeiro, sobretudo em mercados emergentes como no Brasil, tem sido uma constante observada nos últimos anos. Diante desse cenário, o mercado de trabalho tem exigido dos contadores conhecimentos específicos para lidar com as novas demandas da economia globalizada.
Neste artigo, faremos uma simples explicação sobre o mercado de capitais. Você também vai conhecer três exemplos de estratégias empresariais na aplicação prática de instrumentos financeiros derivativos e não derivativos.
O mercado de capitais e o cenário econômico
Com o propósito de fomentar a capitalização das empresas, o mercado de capitais brasileiro tem na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sua agência reguladora. Valores mobiliários são produtos financeiros (de propriedade ou de crédito) criados com objetivo de favorecer a troca de recursos monetários, sejam eles na forma de crédito ou remuneração de capital.
O valor do dinheiro está diretamente relacionado com as condições do ambiente econômico do país. É possível conhecer o cenário macroeconômico por meio do estudo sistemático de variáveis relevantes como taxa de juros, índice de desemprego, inflação, taxa de câmbio, valor de commodities, entre outros.
Com base nesse criterioso relatório, é possível fazer comparações e prever as tendências de cenários futuros, permitindo planejar boas estratégias para atuar no mercado de capitais.
Veja, adiante, três aplicações práticas possíveis com os instrumentos financeiros derivativos e não derivativos.
1. A utilização de instrumentos financeiros de renda fixa como estratégia empresarial
Os instrumentos financeiros de renda fixa oferecem pagamento de remuneração, conforme taxa de juros específica, sob condições preestabelecidas. Quanto ao cálculo da remuneração, podem ser divididos em duas espécies, dependendo do prospecto da oferta. Veja alguns exemplos:
- prefixado: o prospecto de um Certificado de Depósito Bancário (CDB) define que a remuneração será, exclusivamente, 10% sobre o capital emprestado pelo credor. Portanto, é possível calcular, com precedência e exatidão, o valor a ser recebido no vencimento;
- pós-fixado: o prospecto de um título define que a remuneração será de 97% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). Nesse caso, só será possível saber o valor exato da remuneração após o fim do período, pois a taxa de Depósito Interbancário (DI) varia e somente poderá ser calculada posteriormente.
A Caderneta de Poupança é a aplicação de renda fixa mais conhecida pelos brasileiros. Sua remuneração é de 70% da Taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), somada à Taxa Referencial (TR), conforme estabelecido pela Lei 12.703/2012.
Conhecer outros instrumentos de renda fixa pode fazer toda diferença na gestão financeira de uma empresa. Vamos conhecer agora, mais dois desses instrumentos.
1.1. Debêntures
São títulos emitidos por sociedades anônimas que constituem um empréstimo em benefício de um credor. Uma empresa, ao emitir debêntures, define uma taxa de referência a ser aplicada sobre o capital recebido, bem como uma data para a devolução do valor corrigido com juros.
Além do pagamento de remuneração sobre juros, existem também os casos nos quais a tomadora de recursos oferece como garantia a conversão de títulos em ações. É importante lembrar que as debêntures são consideradas aplicações de maior risco para os padrões de renda fixa, pois não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
1.2. Certificados de Depósito Bancário (CDB)
Normalmente, são títulos emitidos por bancos comerciais para financiar suas próprias atividades. De forma geral, possuem características semelhantes aos debêntures, mas cumprem outro objetivo.
Os CDBs são utilizados como instrumentos de captação de recursos a fim de cobrir os empréstimos concedidos aos clientes bancários. São emitidos tanto por bancos públicos quanto privados.
Como possuem a cobertura do FGC, figuram como melhor opção para perfis de investidores conservadores, e estão disponíveis tanto para pessoas físicas quanto jurídicas.
2. A utilização de instrumentos financeiros de renda variável como estratégia empresarial
Instrumentos financeiros de renda variável são produtos sobre os quais não se pode calcular, previamente e com exatidão, sua remuneração. Enquanto alguns títulos de renda fixa pós-fixados oferecem, além da devolução do capital, um rendimento mínimo garantido, esses produtos variam conforme as leis de mercado e podem consumir em perdas todo o capital aplicado.
Há profissionais especializados em estimar os ganhos ou prejuízos possíveis em renda variável. Em muitos casos, uma análise bem elaborada permite decidir pela aplicação de capital em um empreendimento rentável.
2.1. Ações
São a menor fração do capital de uma sociedade anônima comercializado no mercado. Ações ordinárias conferem ao investidor acionista direito ao voto em assembleias gerais. Ações preferenciais garantem prioridade no recebimento de dividendos, porém não dão direito ao voto.
A remuneração varia em função da valorização da empresa, bem como por meio do pagamento de dividendos em decorrência do auferimento de lucro. São contabilizadas na conta de investimentos do ativo não circulante pelas empresas adquirentes.
2.2. Fundos imobiliários
É um conjunto de cotas de empreendimentos imobiliários oferecido a investidores. Um fundo imobiliário é constituído pelo investimento de múltiplos agentes credores e sua gestão é realizada por uma instituição financeira intermediária.
Um fundo imobiliário de um shopping center, por exemplo, varia sua remuneração de acordo com a valorização de mercado desse empreendimento, tornando-o menos ou mais atrativo. Geralmente, cenários de mercado imobiliário aquecidos aumentam a procura por esses contratos, tornando-os uma fonte de investimento relativamente segura e rentável para as empresas.
3. A utilização de instrumentos financeiros derivativos como estratégia empresarial
Muitas vezes relacionados à renda variável, esses instrumentos financeiros possuem características tão peculiares que são mais comumente conceituados no âmbito de mercado de derivativos. Eles foram criados devido à necessidade de mitigar riscos relacionados à variação de preços de mercado, mas também podem oferecer alto risco ao investidor leigo.
3.1. O que são derivativos?
São considerados derivativos os produtos financeiros cujo preço de mercado deriva do preço de outro bem ou instrumento financeiro. Basicamente, são contratos firmados entre as partes, que permitem trocar o valor de um ativo ou commodity, cuja grandeza esteja referenciada em outros objeto do mercado (ativo, taxa ou índice).
Operações de hedge são as estratégias adotadas pelos investidores para se proteger das oscilações de mercado. As variações de mercado representam risco para a saúde financeira e operacional das empresa. Por exemplo:
- variação cambial (cotação do dólar);
- mudança nas taxas de juros (taxa DI);
- mudança no preço de uma commodity (trigo, por exemplo).
3.2. A realização de operações de hedge com contratos de swap como estratégia empresarial
Diante da dificuldade de conhecer com exatidão a cotação de uma commodity ou moeda em uma data preestabelecida, o investidor lança mão dos contratos de swap.
Por exemplo: um importador de trigo firma um contrato com o seu banco. Fica acordado que, caso o preço futuro do trigo seja superior do que o acordado, o banco pagará a diferença a ele. Caso o preço seja menor, a situação se inverte e o importador é quem pagará a diferença. Independentemente de qual seja o valor do trigo, o importador pagará um preço fixo intermediário já conhecido no momento da contratação.
Dessa forma, o empresário consegue estimar limites mais claros sobre os riscos que corre em função dos contratos estarem relacionados a indicadores consistentes. Inversamente, pode lançar mão do mesmo recurso para recuperar eventuais perdas decorrentes das variações de mercado.
Na teoria, parece que ambos têm a mesma chance de receber a remuneração, mas, na prática, o movimento do preço do ativo poderá variar conforme a conjuntura macroeconômica do momento.
Você gostou de conhecer algumas aplicações práticas dos instrumentos financeiros derivativos e não derivativos? Que tal assinar nossa newsletter e receber mais dicas relevantes por e-mail?