Nas últimas décadas, o mercado cervejeiro, nacional e internacional, mostrou um forte ímpeto e grande movimentação nas negociações de M&A (Mergers & Acquisitions – fusões e aquisições).
Boa parte dessa movimentação dá-se pelo forte apetite mercadológico do grupo Ambev, passando pelo seu surgimento nacional em 1999, por meio da fusão de duas grandes empresas do setor brasileiro, a Antarctica e a Brahma, formando a terceira maior cervejaria do mundo e também com o surgimento do seu domínio internacional no mercado cervejeiro na fusão com a cervejaria belga Interbrew, dando origem a InBev.
Posteriormente ao surgimento da InBev, o grupo fez fusão com a Anheuser-Busch (principal cervejaria dos Estados Unidos e dona da marca Budweiser) e se tornou a AB InBev. Não podemos nos esquecer da ampliação do mercado através dos movimentos de M&A com cervejarias artesanais, denominadas “as startups da AB InBev”, até a recente aquisição da empresa Anglo-Sul Africana SABMiller, aprovada no 2º semestre de 2016.
Não distante dessa realidade está a Brasil Kirin, empresa surgida em 2011 após a aquisição da cervejaria Schincariol (tradicional cervejaria de Itu, no interior de São Paulo, que na época era vice-líder do mercado nacional) pelo grupo japonês Kirin pela mera quantia de R$ 4 bilhões. As perspectivas eram as melhores apesar do cenário altamente competitivo.
Mesmo com o mercado dominado pela Ambev, que ainda hoje possui quase 70% das vendas, o negócio parecia promissor em virtude do crescimento das bebidas premium e artesanais, uma das principais forças da Schin. O Brasil havia crescido 7,5% no ano anterior e a cervejaria se apresentava como uma concorrente capaz de incomodar a gigante do mercado.
A empresa nipônica também tinha uma dose de confiança a mais em virtude de sua trajetória. Criada em 1907, ela ostentava a incrível marca de nunca ter registrado um ano sequer de prejuízo desde 1949, quando abriu seu capital.
Desde que iniciou sua jornada no Brasil, no entanto, tudo mudou. O mercado vem caindo e as vendas da Brasil Kirin ainda mais. Sua matriz se viu obrigada a realizar uma baixa contábil de R$ 3,8 bilhões em 2015, o suficiente para interromper mais de seis décadas com o azul predominando na última linha do balanço. A empresa registrou perdas de 56 bilhões de ienes (US$ 462 milhões) nesse mesmo ano.
A situação chegou a um ponto tão crítico que o presidente da Brasil Kirin, André Salles, apresentou um plano de recuperação da operação local à matriz japonesa. As mudanças incluíam a reorganização do portfólio de marcas e a promessa de corte de custos de R$ 200 milhões. O resultado da empresa foi muito inferior ao apresentado por todo o mercado de cerveja no país que registrou retração de 2%, segundo dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) da Receita Federal.
Em 2016, visando minimizar os prejuízos, a Brasil Kirin decidiu reduzir sua capacidade industrial, quando a empresa se desfez da unidade de Cachoeiras do Macacu, no Rio de Janeiro, repassando-a para a Ambev. Apesar da tentativa de se reerguer, fazendo cortes e vendendo seus ativos, a Brasil Kirin não obteve sucesso em um mercado extremamente promissor e competitivo.
Em contraponto a isso, aparece a empresa holandesa Heineken que vem expandindo seus negócios no Brasil e tem como principal objetivo aumentar sua participação no mercado cervejeiro.
Assim, a japonesa Kirin Holdings chegou a um acordo com a holandesa Heineken para vender suas operações no Brasil por cerca de 100 bilhões de ienes (US$ 870 milhões), ou seja, quase 50% do valor desembolsado pelos japoneses em 2011.
Se concretizado, o negócio transformará a Heineken na segunda maior cervejaria do Brasil, depois da Ambev. A Brasil Kirin opera no país com 12 fábricas, 20 centros de distribuição próprios e 190 revendas, e atende cerca de 600 mil pontos de vendas no país. Na categoria de cerveja, a companhia possui em torno de 9% de participação de mercado, atrás da Ambev, com 67%, do Grupo Petrópolis, com 12%, segundo o Credit Suisse. Comprando a Brasil Kirin, a Heineken aumentaria sua fatia de 11% para 20% do mercado.
Segundo o presidente da Heineken Brasil, Didier Debrosse, o investimento permitirá que a companhia produza 40 diferentes produtos na nova linha, ampliando a oferta de Heineken e reforçando sua estratégia multimarcas.
Assim, cabe esperar os desdobramentos dessa negociação, podendo aquecer ainda mais o mercado com novos produtos e até uma possível “guerra de preços” com a dominante Ambev. Em tempos de crise e dificuldades, os grupos econômicos cervejeiros se mostram atentos ao mercado, se movimentando e aproveitando as oportunidades para crescer de forma sustentável.
Com informações do Valor Econômico e IstoÉ Dinheiro.
Yuri Areco
Divisão de Gestão e Finanças
BLB Brasil Auditores e Consultores