A intensa onda de fusões e aquisições (em inglês M&A – Mergers and Acquisitions) entre empresas de todos os setores da economia tornaram-se comuns, objetivando interesses diversos e causando impacto principalmente para o consumidor. Atualmente, foram as fusões e aquisições no mercado educacional que ganharam as notícias.
O mais recente anúncio foi realizado no último dia 1º, quando a Kroton, maior empresa de ensino superior do Brasil, elevou sua proposta pela compra da Estácio, vice-líder do segmento, em uma operação que pode criar uma gigante do setor educacional com cerca de 1,5 milhão de alunos e com a operação avaliada em cerca de R$ 5,5 bilhões. Ressalta-se, que a transação ainda passará pela avaliação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e deverá sofrer restrições do órgão regulador.
Em 2013, a Anhanguera Educacional já havia sido incorporada à Kroton em uma operação de cerca de R$ 5 bilhões. À época, as duas empresas estavam no topo do setor e a fusão gerou um negócio com cerca de 1 milhão de alunos, criando o maior conglomerado do setor no mundo. No ranking mundial, a Kroton é a empresa com maior valor de mercado entre os grupos educacionais. Com a fusão, valeria US$ 8,4 bilhões. A chinesa New Oriental, segunda colocada, tem valor de mercado de US$ 2,8 bilhões.
Com as recentes operações no mercado, além da abertura de capital dessas instituições de ensino na bolsa de valores, uma nova perspectiva surgiu: a formação de um grupo educacional transnacional com sede no Brasil. O negócio segue a cartilha de dois outros casos brasileiros: Ambev-Inbev e Oi-Portugal Telecom.
Reflexos das fusões e aquisições no mercado educacional
O intenso volume de fusões e aquisições no mercado educacional preocupa especialistas da área, causando discussões e dúvidas sobre o tratamento que será dado ao ensino brasileiro: se apenas o lucro será buscado ou também a qualidade.
Com o domínio do setor por um seleto grupo educacional, os riscos e as consequências desse novo modelo de governança atingem diretamente a educação superior, principalmente no que se refere a preço e qualidade do ensino.
Se houver um único grupo educacional com mais de 1 milhão de alunos, considerando que o Brasil tem cerca de 8 milhões de alunos públicos e privados, este grupo terá uma influência muito grande nos rumos da educação no Brasil.
Do ponto de vista da qualidade, os benefícios do negócio também são questionáveis, já que ganhos de escala podem ser interessantes para os resultados financeiros, mas comprometem o acompanhamento individualizado dos alunos, valioso na educação.
O CADE conclui que, embora os ganhos de escala permitam redução de custos, essa queda só será repassada na forma de diminuição de preços se após a fusão o mercado mantiver níveis razoáveis de rivalidade e possibilidade de entradas suficientes para estimular a concorrência e distribuição. No atual cenário, a concentração acabará com as instituições de menor porte, que são maioria no país, prejudicando ainda mais a competitividade.
Além disso, os movimentos de compra e venda de empresas dentro de prazos muito curtos também trazem grandes prejuízos aos alunos, pois projetos de melhoria de ensino carecem de ciclos longos de amadurecimento.
Assim, como o CADE faz apenas uma avaliação econômica, ao passo que a excelência acadêmica não é citada como um elemento para que o Estado aprove ou faça suas considerações sobre esse tipo de fusão, o Ministério da Educação precisa desenvolver uma política adequada de planejamento e supervisão da expansão do ensino superior brasileiro.
Esse acompanhamento por parte da pasta é essencial para manter a qualidade do trabalho praticado pelas instituições de ensino superior no Brasil e garantir ao cidadão que interesses econômicos não afetem uma das áreas de maior interesse do país.
Yuri Areco
Divisão de Gestão e Finanças
BLB Brasil Auditores e Consultores