Apesar da atual crise econômica, política e institucional, nos últimos anos o Brasil vivenciou pelo menos meia década de crescimento e expansão econômica. Mas um fator sempre emperrou um maior crescimento econômico brasileiro, o chamado Custo Brasil.
Custo Brasil
O Custo Brasil é uma realidade que prejudica a economia sem distinção, seja a prestação de serviço, o comércio ou a indústria. Entende-se por Custo Brasil um conjunto de problemas estruturais da economia e burocracia do país, que torna nossos produtos e serviços mais caros e menos eficientes, dificultando investimentos e o crescimento interno.
Entre as questões colocadas por um investidor antes de aplicar o seu capital no país estão: os impostos são reduzidos? A mão de obra é barata? Os juros são baixos? Existe uma boa infraestrutura de transportes? A energia é abundante? Há informação científica robusta disponível? Há suporte técnico-científico para as atividades planejadas?
Não existe uma medida clara e precisa do que compõe o Custo Brasil. Percebemos esse “custo” nas dificuldades enfrentadas pelas empresas ou investidores com relação aos altos impostos e taxas. Também com os sistemas trabalhista, previdenciário e fiscal complexos e pesados, infraestrutura deficiente (rodovias, portos, aeroportos). Além da corrupção e impunidade em diversos setores da sociedade, déficit público, taxa de juros elevada entre outros.
Fome e desperdício de alimentos
Há um aspecto que também afeta a conta final do Custo Brasil, mas que é pouco abordado. É a questão da fome e do desperdício de alimentos. O Brasil está entre os países que mais desperdiçam comida no mundo. Se reduzisse essas perdas, o país poderia oferecer mais produtos para o mercado interno, barateando os preços e exportando mais. Ou seja, o mercado consumidor se beneficiaria de preços mais baixos, entrariam divisas e o gasto governamental com todo o sistema seria menor. Assim, seria possível investir em outros setores, como educação, ciência, tecnologia, inovação e infraestrutura. Boa parcela do chamado Custo Brasil poderia ser equacionada.
Todos os alimentos não aproveitados ao longo da cadeia produtiva representam 1,4% do PIB brasileiro. Órgãos governamentais e pesquisadores de entidades públicas e privadas se debruçam sobre o problema diariamente. O objetivo é encontrar soluções para os diversos gargalos que o circuito dos alimentos enfrenta no Brasil. E o esforço para vencê-los precisará ser grande. Cerca de 35% de toda a produção agrícola vai para o lixo. Isso representa um rombo de R$ 17,25 bilhões no faturamento do setor agropecuário.
Colheita
Pesquisas apontam que é na fase de colheita que ocorrem as maiores perdas e os motivos são diversos. Um exemplo é a falta de regulação, operação e manutenção adequadas das colheitadeiras ou equívocos na identificação do grau de maturação do produto. As dificuldades se repetem na pós-colheita. Falta infraestrutura na rede de armazenagem e no transporte da produção brasileira. Nessa fase, os estragos podem ocorrer tanto do ponto de vista físico como da qualidade do produto.
Na prática, isso significa que mais de 10 milhões de toneladas de alimentos poderiam estar na mesa de milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. Do total de desperdício no país, 10% ocorrem durante a colheita. Outros 50% no manuseio e no transporte dos alimentos, 30% nas centrais de abastecimento e os últimos 10% ficam diluídos entre supermercados e consumidores.
Por outro lado, o país está ciente de que “ampliar a produção agrícola” não é o único fator da equação, e que segurança alimentar e nutricional é uma meta transversal, que envolve esforços múltiplos no campo da economia (enfrentar crises financeiras e flutuação de preços dos alimentos, por exemplo), da saúde (disseminar conhecimento sobre produção e consumo saudável), dos transportes e infraestrutura (melhorar a logística de distribuição) e da política (reduzir desequilíbrios sociais e regionais) entre outros.
Alimentos orgânicos
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Conselho Mundial da Água (CMA), em 2014, por meio do documento “Rumo a um futuro de segurança hídrica e alimentar”, alertou sobre a oferta de alimentos para o ano de 2050, e pediu políticas governamentais e investimentos dos setores público e privado para garantir que a produção agrícola, animal e piscicultura seja sustentável e contemple também a salvaguarda dos recursos hídricos.
Nesse sentido, o cultivo de alimentos orgânicos vem crescendo no país e esse mercado deve crescer, ainda nesse ano, mais de 30% enquanto nos outros países o crescimento gira em torno de 5% a 11%.
Há cerca de três anos, foi regulamentada uma lei que permite a identificação dos produtos orgânicos por meio de selos em suas embalagens. Dessa forma, os consumidores que desejam uma alimentação mais saudável e sustentável podem diferenciar o alimento orgânico do alimento convencional.
Crescimento do setor
Esse fato impulsionou o setor, que hoje representa cerca de 1,5% do mercado de alimentos no Brasil. Ou seja, o crescimento desse setor se deve principalmente a uma mudança de hábitos na alimentação da população. Quem deseja melhorar a alimentação opta por alimentos livres de agrotóxicos e hormônios, preferindo os alimentos orgânicos aos transgênicos e convencionais. O segmento movimenta US$ 35 bilhões ao ano no país (é o quarto maior mercado do mundo) e não é difícil entender o porquê disso, pois 28% dos brasileiros consideram o valor nutricional o mais importante na hora de consumir um produto, enquanto 22% dão preferência a alimentos naturais e sem conservantes.
Assim, é importante ter em mente que esse tipo de produto sempre terá um preço com maior valor agregado, o que pode ser um desafio na venda para o consumidor. É preciso que seja feito um investimento significativo na área de pesquisa, assistência especializada e divulgação dos alimentos orgânicos no país. Além disso, é essencial o apoio à produção orgânica estar presente em diversas ações do governo brasileiro, oferecendo linhas de financiamento especiais para o setor e incentivando projetos de transição de lavouras tradicionais para a produção orgânica.
* Dados citados no artigo são da Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Estado de São Paulo e da Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Yuri Areco
Divisão de Gestão e Finanças
BLB Brasil Auditores e Consultores